Sofia Moncóvio: Jogadora lacobrigense de Hóquei em Patins feminino pelo Sporting Clube de Portugal

Retirado de: correiodelagos.com

A edição impressa de Junho 2021 trouxe à estampa Sofia Moncóvio, atleta lacobrigense que tem levado a cidade no peito pelo país fora em virtude da paixão que nutre pelo Hóquei.

Por : Marta Ferreira

Sofia Adriano Moncóvio, nascida a 1 de Dezembro de 1998 e natural de Lagos. Em 2015 rumou à capital para ingressar na Licenciatura em Bioquímica, estando de momento a frequentar Mestrado em Exercício e Saúde. Ao mesmo tempo, é jogadora de Hóquei em Patins pelo Sporting Clube de Portugal e soma, à data, títulos como o de Vice-Campeã nacional, alcançado já por três vezes; Vice-Campeã da Europa Sub-17 e Vice-Campeã da Europa por Portugal, o último conquistado mais recentemente, em 2018.

Além do natural interesse por Desporto em geral, Sofia também adora Ciência e Fotografia. Nos tempos livres gosta de viajar, ver filmes e séries, conviver com amigos, ir à praia e estar com a família. Define-se como ambiciosa, teimosa, perseverante e alguém cujo «muito espiríto de sacríficio» tem possibilitado o cumprimento das próprias metas. No que ao Hóquei diz respeito, aponta como referências os jogadores Gonzalo Romero, Pablo Alvaréz e Luchi Agudo.

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A «paixão hereditária» pelo Hóquei

Sofia iniciou o seu percurso no Clube de Patinagem Roller Lagos, camisola que vestiu durante 10 anos seguidos (2002-2012) e depois por mais dois (2014-2015). Jogou também pelo Hóquei Clube de Portimão (2012-2014) e pelo A. Stuart Hóquei Clube de Massamá (2015-2019), em Lisboa. Em 2019, eis que surge a oportunidade de jogar no Sporting, clube que representa actualmente.

Tendo crescido numa família desde sempre ligada ao Desporto e, em especial, à Patinagem, pode-se dizer que Sofia contraiu o gene através do pai, Paulo Moncóvio, figura de renome no seio do Hóquei lacobrigense, ex-jogador, ex-dirigente e actualmente árbitro: «Toda a minha família estava englobada no mundo da Patinagem e no Roller Lagos. Foi quase uma paixão hereditária».

Começou a patinar com apenas 3 anos, até que a vontade de levar o Hóquei a um patamar mais sério começou a manifestar-se. Felizmente, o facto de estar rodeada de parentes que compreendem as exigiências da modalidade constitui uma mais-valia para a atleta: «Ajuda bastante. Vêem o desporto da mesma forma e com a mesma mentalidade. Como tal, apoiaram bastante a minha decisão e fizeram de tudo para que eu pudesse seguir este caminho. São a principal razão de tal se ter concretizado».

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Ligação a Lagos

Apesar de ter apenas 22 anos, Sofia nutre já um amor intenso pela sua cidade de berço e gaba-a por onde quer que vá: «Lagos é o sítio onde me sinto genuinamente feliz, onde estão os meus grandes amigos e a vida parece mais fácil. Mas foi a cidade que tive de abandonar muito cedo para me poder dedicar àquilo que mais gosto de fazer», disse, num misto de emoções.

Adiante, recordou: «Dos tempos de escola às idas à praia, as primeiras festas, memórias e aventuras de Verão... Todos os momentos em Lagos recordo como tempos felizes. Foi onde fiz muitos dos amigos que levo para a vida e com os quais vivi grande parte das minhas maiores experiências. Só quem tem a sorte de crescer nesta cidade entende».

A par dos sucessos vividos ao lado de atletas conterrâneos, Sofia descreve a passagem pelo Roller Lagos como uma etapa marcante. Quando era mais nova, uma das suas maiores motivações era observar as colegas em escalões mais elevados: «Desde muito cedo que comecei a treinar e a jogar com atletas mais velhas. Sempre as vi como referências e queria aprender com elas. Ajudaram-me bastante na minha progressão e crescimento», explicou.

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A subida ao clube dos leões

A transição para o Sporting Clube de Portugal foi um momento de alguma pressão para Sofia.

Até então a jogar pelo A. Stuart Hóquei Clube de Massamá, a atleta mencionou que de início não foi fácil: «Tive de atravessar um período de adaptação. Só quando entramos num clube grande é que realmente entendemos a dimensão que isso implica, a responsabilidade que carregamos quer connosco próprios, quer para com o clube. Mas depois dessa barreira psicológica do medo entendemos as partes muito boas de se jogar num clube assim, as condições que nos proporcionam, a mentalidade de querer sempre mais e melhor. Isso ajuda-nos a formar carácter e, como tal, a tornarmo-nos melhores pessoas e atletas».

Hoje, o balanço que faz é bastante positivo. Sente que cresceu enquanto jogadora e que consegue dar mais de si à prática, sendo que procura constantemente aprimorar-se.

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Memórias em patins

De "quinas ao peito", Sofia relembrou o momento em que subiu às Finais do Campeonato Europeu de Patinagem: «Representar Portugal, vestir a camisola das quinas é – e deve ser – o maior momento de orgulho de um atleta. É o culminar de muito esforço. Ouvir e cantar o hino é, sem dúvida, das melhores sensações e arrepios que já senti na minha vida», desvendou.

Entre outros feitos, destacou também a chegada às Meias Finais da Liga Europeia em 2018: «Foi um percurso muito positivo naquela que é a maior competição europeia a nível de clubes».

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Ser estudante-atleta

A par dos triunfos no âmbito do Hóquei, Sofia optou por estudar Bioquímica em simultâneo, na altura a jogar pelo A. Stuart HC Massamá. Agora a completar Mestrado, apesar de ser difícil, a atleta garante conseguir conciliar ambos tendo em conta os normais desafios de um desportista, como o cansaço e os treinos: «Um dia na vida de uma estudante-atleta é um dia muito aterefado e bastante esgotante quer a nível quer físico, quer a nível psicológico, mas acaba por ser gratificante e é algo que vou sabendo conciliar», refere.

No meio da correria, ainda assim «há tempo para tudo», sendo que aproveita muitas vezes o trajecto até aos jogos para estudar no autocarro.

Quando questionada sobre ser uma inspiração para outros jovens, Sofia modestamente respondeu: «Não penso muito nisso, nem acho que o seja». Salientou que chegou onde chegou pela via do trabalho e não só empurrada pela "sorte". Ainda assim, deixa uma mensagem a quem aspira singrar na modalidade: «Sou apenas o exemplo de uma atleta que cresceu numa cidade onde a saída desportiva no Hóquei não é propriamente forte. (...) Se for para ser uma inspiração para alguém, que seja para que acreditem neles mesmos, sejam de que idade ou cidade forem, independentemente até da modalidade que praticam. É sempre possível alcançarmos os nossos objectivos», concluiu.
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Estigmas e obstáculos

Tal como noutros desportos, também no Hóquei se faz sentir a disparidade homens versus mulheres. Neste sentido, a atleta considera que existem ainda alguns estigmas associados à carreira: «É uma batalha incompleta, ainda longe de ser vencida. Normalmente, quando se pensa em atletas de alta competição, principalmente neste tipo de desportos colectivos, como é o Hóquei, as pessoas associam sempre a homens. Têm muito mais visibilidade, as mulheres não são tão respeitadas. E não digo só a nível monetário, mas também em termos de reconhecimento. Encaram o desporto feminino como algo menos sério».

Ainda em matéria de obstáculos, segundo Sofia ainda não é possível viver da Patinagem em Portugal: «Não há orçamentos nem investimentos para tal. Em Portugal jogamos Hóquei até ao momento em que deixa de ser possível conciliar o desporto com a vida académica ou profissional, havendo, por isso, desistências em idades muito tenras», reflectiu.

Também a pandemia trouxe alguns desafios acrescidos à modalidade e ao Desporto em geral. Naturalmente, as condicionantes impostas pelas autoridades de saúde acabaram por pesar na performance dos atletas: «Estivemos largos meses sem poder ir aos pavilhões. Cada atleta era responsável pela sua condição física, com acompanhamento e treinos enviados por parte do clube, mas cada uma a partir de sua casa. Quando finalmente regressámos, muita coisa tinha mudado, tal como as regras de higiene aliadas ao combate da propagação do vírus», contou.

Da suspensão de treinos aos pavilhões vazios, o principal factor de desalento foi mesmo «a falta de adeptos na bancada», os quais, para Sofia, «fazem parte do espectáculo e da emoção do jogo». Por outro lado, em termos de desempenho em campo, sente que a ausência de espectadores ajuda a que se mantenha mais focada.

Desafios à parte, o futuro desta jovem adivinha-se promissor. - in correiodelagos.com

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