António Ramalhete: O eterno guarda-redes

Retirado de: zerozero.pt

Por Humberto Ferreira

Durante 15 anos Portugal não conheceu outro guarda-redes. António Ramalhete era uma espécie de ‘monstro’ entre os postes: arrojado, sem medo, destemido, gigante.

Quando um adversário lhe aparecia à frente, saía da baliza como mais nenhum fazia. Marcou uma era, inspirou as seguintes, durante 15 anos não teve descanso e manteve-se de cócoras. O maior elogio? Ter sido considerado o guarda-redes do Século XX.

O visionário do hóquei que o descobriu

©Sporting CP
Torcato Ferreira, a bem da verdade, não precisava de saber patinar para descobrir os talentos do hóquei patinado português. Ramalhete foi mais um deles. Descobriu-o quando jogava futebol, à semelhança de Livramento, e convenceu-o a experimentar o mundo das oito rodas. António Ramalhete gostou e foi, mas na hora de decidir a posição levou uma 'finta' dos amigos.

Quando Torcato Ferreira perguntou quem podia ser o guarda-redes, todos apontaram... para Ramalhete. Foi assim, com uma pequena brincadeira, que nasceu o maior guarda-redes de todos os tempos do hóquei em patins português.

Chegar ao topo antes da maioridade

Tinha 12 anos e desde o início demonstrou ser uma mais valia. Certo dia, ainda nas camadas jovens, contou que equipa perdia todos os jogos e nos que não era derrotada, o resultado ficava 0x0 por sua inspiração.

©Sporting CP
Para quem jogava à frente havia uma série de condicionantes para brilhar, mas a escolha na baliza foi sempre mais fácil, pois a qualidade de António Ramalhete era superior à de qualquer outro.

Com 16 anos já era titular da baliza do Benfica e aos 17 anos foi chamado pela primeira vez à seleção nacional juntamente com uma equipa recheada de campeões do mundo.

A partir daí, Ramalhete passou a ser sinónimo de titularidade e certeza absoluta. O Benfica vivia os anos de ouro na modalidade e Portugal também. Com os encarnados foram seis campeonatos em nove temporadas.

A revolução que tudo mudou

Em 1974, o regime ditatorial terminou em Portugal e tudo mudou no panorama hoquístico. O Benfica decidiu transformar todas as modalidades em amadoras e vários atletas da equipa de hóquei em patins, entre eles Ramalhete, insurgiram-se contra a vontade dos dirigentes e saíram em bloco para o ‘outro lado da rua’.

©Arquivo Pessoal
Atento à situação, o Sporting juntou uma das melhores gerações de sempre da modalidade no seu ponto de rebuçado e António compunha o ‘Ramalhete’.

Na nave de Alvalade, ainda se tornou mais icónico. Três campeonatos seguidos e uma Taça dos Campeões Europeus celebrada como nunca. Como tal, o guarda-redes foi recebido em ombros e tinha uma bancada central do estádio de Alvalade à espera para celebrar.

Mais tarde voltou ao Benfica e voltou a ganhar, mas o sabor dos triunfos com a camisola verde e branca fê-lo terminar a carreira de leão ao peito aos 40 anos, tal como tinha vaticinado nos seus pensamentos quando começou a aventura destemida de cócoras. Foi único e ainda é um ícone daqueles que desafiam a velocidade dos remates... - in zerozero.pt

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