O NHP esteve à conversa com Teresa Morais jogadora do CH Carvalhos e uma das melhores jogadoras da liga portuguesa.

O NHP esteve à conversa com Teresa Morais jogadora do CH Carvalhos e uma das melhores jogadoras da liga portuguesa.

Recebemos esta semana no Noticias Hóquei em Patins, a Teresa Morais, a jogadora do CH Carvalhos e uma das melhores jogadoras da Liga portuguesa. Um talento enorme com quem tivemos a honra de conversar e de ficar a conhecer melhor. 



NHP - Teresa, a tua paixão pela patinagem começa aos 3 anos, quando patinavas durante os treinos do teu irmão, que na altura jogava no FC Porto, conta-nos mais sobre esse início. Como foi para ti tão nova começar a calçar os patins? E o que te fez apaixonar pela patinagem?

TM - Ia ver os treinos do meu irmão e inclusive o Tiago Freitas, hoje guarda-redes da AD Sanjoanense, também ia por causa do irmão dele. Passávamos tanto tempo lá que começamos a levar os patins e aprendemos a patinar sozinhos pelas bancadas do pavilhão. Tinha apenas 3 anos e foi uma escolha fácil, desde sempre soube que queria ser igual ao meu irmão.


NHP - Começas a jogar aos 5 anos, no FC Porto e muito por incentivo do teu irmão. Como aconteceu esse início como jogadora? E se foi ele o maior responsável pela tua paixão, nesses primeiros anos? 

TM - Sem dúvida que o meu irmão foi o maior responsável. No início tinha receio de começar a jogar porque eram só rapazes, mas um dia o meu irmão foi ajudar o seu treinador a dar treino às escolinhas do Porto e disse para ir com ele experimentar, desde aí não quis outra coisa.


NHP - Conta-nos a todos, existe alguma história engraçada nesse teu começo no hóquei em patins?

TM - O meu primeiro treino! Como foi o meu irmão que deu o treino, obrigava-me a chamar-lhe treinador, coisa que era muito difícil para mim pois sempre nos tratamos por “mano/a”. Muitas vezes esquecia-me, até que ele me pôs de castigo, a partir daí nunca mais lhe chamei “mano”.


NHP - O teu primeiro clube foi o FC Porto, pergunto se começar num dos grandes clubes portugueses fez a diferença? E se ainda guardas lembranças e muitas aprendizagens desses tempos? Apesar da tua idade na altura.

TM - Sem dúvida. No Porto sempre me senti em casa e, ao ter o meu irmão por perto tudo se tornava mais fácil. Nunca me trataram de forma diferente por ser menina. Para além do clube, também tive dois grandes treinadores que foram fundamentais no meu crescimento, que era o Hélder Antunes e o Miguel Camões.



NHP - Com a saída do teu irmão para o Valongo, tu mudas para o Académico do Porto, foi aí que fizeste os primeiros jogos. Como foi para ti essa mudança? E como foram esses teus primeiros jogos?

TM - A mudança foi fácil. O Académico é um clube muito acolhedor e é como uma família gigante. Passava a maior parte do meu tempo lá porque saía da escola e ia para lá jogar com os meus amigos, depois ainda tinha o treino. Foi lá que fiz os primeiros jogos e lembro-me de estar muito ansiosa, mas depois do primeiro soube mesmo que era aquilo que eu queria, jogar hóquei.


NHP - Depois tens a tua mudança para o Valongo, como surgiu esse convite? E se teve algum motivo especial essa ida para o Valongo?

TM - Surgiu na altura em que o meu treinador Raul Alves foi também para o Valongo. Gostei bastante de jogar lá e foi das maiores aprendizagens que tive até hoje. O Valongo é um clube incrível e tive o privilégio de ser treinada pelo Hugo Azevedo que, apesar de não ter sido muito tempo, me ensinou muito.


NHP - Foram duas épocas no Valongo, nos sub-13, guardas alguma memória especial dessas duas épocas? E qual foi a maior aprendizagem no Valongo?

TM - As memórias são muitas, mas marcou-me o facto de ser a primeira menina a jogar no Valongo. A maior aprendizagem que tive foi a raça e entrega dentro de campo que é indispensável em qualquer escalão do Valongo.


NHP - Duas épocas feitas em Valongo, regressas à casa onde fizeste os teus primeiros jogos, foi uma opção esse regresso ou foi um convite irrecusável?

TM - Foi uma opção. É certo que, a partir de uma certa idade, se começa a sentir a diferença de força e velocidade de jogo entre os rapazes e as raparigas, e isso levou-me a regressar. Saí feliz e com muito mais hóquei dentro de mim.



NHP - Até este ponto foram vários clubes, muitas e muitos colegas, e a minha pergunta é se foi importante para o teu jogo atualmente, o tempo em que estiveste a treinar e jogar com rapazes? E como era jogar melhor que todos eles?

TM - Sempre gostei de jogar com os rapazes, eles não me tratavam de forma diferente por ser rapariga. Ainda hoje, nos Carvalhos, treino com eles porque sei que só me acrescenta enquanto jogadora. Os rapazes obrigam-me a ter mais ritmo e força por serem mais duros a jogar, e isso é vantajoso se o aplicar o feminino. Não era melhor que eles, mas tentava sempre aprender e eles ajudavam muito.


NHP - O começar cedo, fez-te jogar com e contra muita gente, quem foram aqueles(as) que ficaram como amizades para a vida? E quem foi a(o) jogador(a) que mais te impressionou, pelo talento e/ou pela forma de jogar?

TM - Muitos. Mas o Tiago Freitas é como um irmão e conhece-me desde o dia que nasci. Demos os primeiros passos juntos no hóquei e é um orgulho para mim vê-lo chegar tão longe. O jogador que tenha jogado comigo e que mais me impressionou foi o Diogo Barata, no Valongo. Para além do talento que tem, era trabalhador e muito humilde.


NHP - Regressando ao teu percurso, depois do Académico, vais para o Infante de Sagres. Foi o facto de ser uma equipa feminina que te fez aceitar o convite? E como foi esta mudança, quais as principais diferenças que sentiste?

TM - Sim. A principal razão de ir para o Infante foi por integrar uma equipa feminina. Fui muito bem-recebida e foi uma adaptação bastante fácil. A principal diferença, para além da força e da velocidade, foi ter um balneário cheio. Quando jogava com os rapazes tinha de me equipar sozinha num balneário e é muito diferente. Sem dúvida que um bom balneário é importante para se ter uma equipa unida.


NHP - Jogavas em dois escalões, pois no Infante de Sagres estavas simultaneamente nas sub-15 e na equipa feminina. Qual era a maior dificuldade em jogar em dois escalões? E como foi o início, como jogadora em uma equipa feminina?

TM - Não senti nenhuma dificuldade em integrar os dois escalões, até porque era o meu objetivo. Como a Inês Freitas e a Raquel Santos também o faziam era tudo mais fácil. Os treinos dos sub15 eram antes do feminino e conciliávamos bem os dois escalões. O início foi muito positivo. Alcancei vários objetivos tanto em termos individuais como coletivos.



NHP - A pandemia surgiu numa altura em que estavas muito bem pessoalmente, o que foi mais complicado para ti, como jogadora? E como foste fazendo para manter a forma? 

TM - No início foi um choque pois o campeonato parou e nunca tinha estado parada antes da pandemia, era tudo uma novidade. Com o tempo fui me mentalizando que tinha de aguentar pois a saúde está em primeiro lugar. Manter a forma não foi difícil com o meu irmão em casa. Para além de fazer o plano de treinos do clube ainda jogava hóquei todos os dias na garagem com ele.


NHP - Na paragem treinaste com o “mano” Álvaro? E se ter um irmão jogador foi algo que te ajudou durante toda a paragem que existiu?

TM - Como disse anteriormente, sim. Foi uma grande ajuda para mim poder treinar com ele. Apesar de muitas vezes ter de fazer de guarda-redes para ele treinar, mas não me importava, divertíamo-nos bastante.


NHP - Uma época interrompida, muito tempo de paragem e uma mudança para o Carvalhos. Como surgiu esta oportunidade? E se existiu algum atrativo maior que te fez mudar para o Carvalhos?

TM - Foi uma escolha muito difícil e repensada várias vezes. Um dos motivos de mudar para os Carvalhos foi por termos uma equipa jovem e que se conhece toda da seleção há vários anos. O facto de jogarmos juntas há muito tempo é muito benéfico. Para além disso não fui sozinha, duas colegas e o mister também se mudaram para os Carvalhos.


NHP - Tens feito uma época muito boa, tens sido uma das jogadoras em maior destaque, qual é a tua autoavaliação para esta tua época?

TM - Está a ser uma época diferente pois o campeonato adotou uma estrutura nova. Começamos muito bem e cheias de vontade, não se esperava outra coisa depois de tanto tempo sem jogar. A nível individual está a ser positiva, mas também devido à equipa que tenho, entreajudamo-nos todas e só podia dar bom resultado.


NHP - Algum objetivo pessoal para a restante temporada?

TM - Não tenho objetivos definidos por épocas. O meu principal objetivo é um dia poder representar Portugal pela seleção sénior, e trabalho todos os dias para isso. Quanto mais cedo atingir esse objetivo, melhor.



NHP - Falando de toda a tua carreira, qual foi o maior desafio que tiveste de enfrentar até agora? E qual achas que é o teu melhor e pior momento na tua carreira até ao momento?

TM - Não está diretamente relacionado com a minha carreira, mas o maior desafio foi separar-me do meu irmão. Ele sempre foi o meu apoio e a pessoa que me dá mais na cabeça para eu evoluir no hóquei. Estar longe dele torna-se complicado pois não sentimos o apoio um do outro de igual forma. Não tenho pior momento, todos que foram menos positivos fizeram-me crescer. O momento mais positivo foi para mim ganhar o Inter-regiões feminino, não pelo título em si, mas por tudo o que se passou após o penúltimo jogo.


NHP - Qual é, o teu maior sonho para o futuro?

TM - O meu maior sonho para futuro é ser campeã europeia ou mundial pela seleção.


NHP - Passando para a parte dos ídolos, além do teu irmão, quem é o(a) teu/ tua maior referência no hóquei em patins?

TM - A minha maior referência, para além do meu irmão, é o Ton Baliu e o Pablo Alvarez. O Pablo porque tem uma enorme qualidade e é um “mágico”, marca golos de qualquer forma. O Ton porque, para além da qualidade, é dos jogadores mais simples e humildes que já vi até hoje.


NHP - Em relação ao lado familiar, numa família com dois grandes jogadores, como é para o Alvarinho ser conhecido como o irmão da Tété? E quem dos dois joga melhor? 

TM - Isso não posso responder por ele, mas faço sempre de tudo para deixar o meu irmão orgulhoso. Ele, sem dúvida! Para mim, será sempre o melhor.


NHP - Voltar a jogar no mesmo clube que o teu irmão, é um sonho?

TM - Para além de jogar no mesmo clube, também adorava poder jogar com ele, mas infelizmente o género não nos permite.


NHP - Passando ao teu nome, és conhecida como a Tété, tem alguma origem engraçada? E sim, qual? E qual preferes, Teresa, Tété ou Teresa Morais?

TM - Sempre me chamaram Teté dentro do hóquei, não sei bem porquê. O meu irmão é o único que me trata por Tecas. Sinceramente, já estou muito habituada ao “Teté” e nem os meus pais me tratam por Teresa.


NHP - Tal como o teu irmão, usas o número 74, qual é o significado desse número para os dois?

TM - O 74 é uma junção do número favorito do meu irmão (4) e do meu (7), para além disso é o ano de nascimento da nossa mãe e o 7 é a diferença entre a minha idade e a do meu irmão. Quando ia escolher o meu número, ele disse logo que tinha de ser o mesmo que ele.



NHP - No Carvalhos além de ti, a Raquel Santos tem sido um dos destaques da liga, qual achas que é o fator determinante para o rendimento da Teresa? E que outras jogadoras queres destacar na liga?

TM - A Raquel é uma jogadora incrível. Já nos conhecemos desde pequenas e é um orgulho ver a evolução dela. Para além do seu mérito e trabalho pessoal, a Raquel é uma jogadora que deixa tudo em campo, tem uma entrega enorme e é bastante bom para o seu rendimento. Destaco, para mim das melhores jogadoras que já vi jogar, a Ana Catarina. Tem uma qualidade do outro mundo, para não falar que é uma excelente pessoa.


NHP - Está a ser novamente um campeonato de muita qualidade, nos dois grupos, nesta altura temos grandes jogos todos os fins de semana, porque achas que não é dada a devida visibilidade ao hóquei em patins feminino? E o que achas que é preciso mudar?

TM - Acho que, para além de ainda não darem a devida visibilidade ao hóquei feminino, esta já evoluiu bastante. A cada ano se criam mais equipas e a competitividade entre elas é cada vez maior. A criação de torneios como o Inter-regiões feminino e a sua transmissão também veio ajudar. Apesar da pandemia estar a ser um mau momento, trouxe uma vantagem ao hóquei feminino porque os jogos começaram a ser transmitidos em várias plataformas consoante o clube, o que permite a qualquer pessoa ver o jogo em casa, coisa que antes não acontecia.


NHP - Quantos golos para regressares aqui ao Notícias Hóquei em Patins?

TM - Não sei, mas visto que vamos a meio do campeonato pode ser o dobro (provavelmente nunca mais volto).



NHP - Para terminar com o número de perguntas igual aos teus golos marcados, que mensagem queres deixar para os teus fãs e para quem está a ler?

TM - Que principalmente se divirtam a jogar e trabalhem sempre para atingir os seus objetivos, por mais difíceis que esses pareçam ser.


Muito obrigado, Teresa, foi um privilégio conversar contigo, aguardamos o teu regresso ao Notícias Hóquei em Patins, e desejamos todo o sucesso, para ti e para o CH Carvalhos. 


Obrigado!
José Andrade
Notícias Hóquei em Patins

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