Hóquei francês

Retirado de: hoqueiem.blogspot.com

Uma nova potência do hóquei Mundial? Tudo leva a crer que sim. O hóquei francês divide-se entre o positivo da capacidade organizativa (é o terceiro país com mais praticantes, depois do estado espanhol e Portugal, com cerca de 5000 praticantes, tendo tido um crescimento exponencial nos últimos anos) e o menos positivo no nível ainda pouco profissional das equipas de topo, comparando com as potências europeias da modalidade. A entrada maciça de jogadores estrangeiros poderá mudar esse panorama daqui a uns anos, mas diria que ainda mais ajudaria se existisse uma entrada maciça de treinadores ibéricos.  

Recuando aos primórdios, como país situado no centro da Europa, a modalidade impôs-se fortemente nos anos '20, expandido-se nos quatro cantos do país, com destaque para Paris, para a Bretanha (zona próxima do Reino Unido, onde nasceu o hóquei em patins) e para a zona próxima da fronteira com a Bélgica e Suíça. A seleção francesa consegue cinco segundos lugares no Europeu (entre 1926 e 1931) e dois terceiros (1929 e 1932). A participação em Mundiais e Europeus foi sempre constante, destacando-se, pela negativa, a única ausência em europeus (1957) e as ausências nos Mundiais '62, '64, '68, '72 e '78. Nos anos '80 surge o primeiro grande impulso do hóquei francês, depois dos anos '20. A participação periclitante nos mundiais (inclusive com ausências em 1984, 1988, 1989 e 1991) não apaga a vitória no Mundial B '84, realizado em Paris, e a afirmação de uma das grandes estrela da modalidade em França, Eric Marquis, melhor marcador de sempre da seleção francesa com 83 golos, sucedendo René Chieze (o francês com mais mundiais jogados, oito, todos nos anos '50) como símbolo do hóquei francês. 

Éric Marquis, a primeira grande referência do hóquei gaulês


Nos anos '90, apesar de os resultados continuarem a não ser vistosos (destaca-se mais uma vitória no Mundial B em '94), verificou-se um seguimento do impulso iniciado nos anos '80, mas no sector 'invisível': na formação. O trabalho de raíz deu frutos já no final da década, com o segundo lugar no Europeu de juvenis em 1999. Seguiram-se os quartos lugares nos Europeus sénior de Wimmis (2000) e Florença (2002) e os segundo e terceiro lugares nos Europeus de juvenis em 2002 e 2003. Os portugueses jamais esquecerão aquele jogo de abertura do Mundial 2003 em Oliveira de Azeméis, onde a França esteve a vencer Portugal por 3-0, perdendo depois por 4-3. Apesar da derrota, considero essa partida como a afirmação da França, enquanto seleção, como um verdadeiro outsider, capaz de ombrear com as grandes potências da modalidade, após um quinto lugar alcançado no Mundial San Juan 2001. Nesta primeira grande geração do hóquei francês pós anos '20 pontificaram Igor Tarassioux, Sebastien Landrin, Olivier Gelebart, Remi Lasnier, Olivier Lesca, Frédéric Hamon, Nicolas Guilbert, Jérôme Moriceau, Rémi Hourcq, Julien Huvelin, Nicolas Guillen, Guirec Henry, Sebastien Furstenberger, Baptiste Lucas, contando, já na reta final da década, com a presença de outros três importantes elementos: Anthony Weber, Guilhem Lesca e Loic Le Menn, que alcançaram o terceiro lugar no Europeu 2010, 78 anos depois do último pódio.

Além destas brilhantes classificações, é de referir que ao longo da década 2000-2010 foram almejadas posições de referência e com regularidade: quarto lugar no Europeu 2008, quinto lugar nos Mundiais 2007 e 2009 e sexto lugar em 2003 e 2005.

Saint Omer

A AFIRMAÇÃO
Depois do primeiro passo dado, de uma equipa que jogava participar (1990-2000) para uma seleção com que podiam contar (2000-2010), França continuou a progressão (2010-2020) em dois pontos diversos: seleção nacional e campeonato nacional. Começando pela seleção, apesar de resultados àquem da expectativa (salva-se apenas o quarto lugar no Euro 2012 e, pela negativa, destaca-se o sexto lugar no Mundial realizado em La Vendeènne), 2018 e 2019 trouxeram os frutos da última década de trabalho com os quartos lugares no Europeu de 2018 e no Mundial 2019, este último a melhor classificação de sempre em Mundiais. Destacam-se os irmãos Bruno, Carlo e Roberto di Benedetto, Rémi Herman, Nathan Gefflot, Keven Correia, Antoine Le Berre, Baptiste Bonneau e Mathieu Le Roux. À excepção dos últimos dois, todos os outros com experiências no hóquei ibérico ao nível de clubes, afirmando o hóquei frânces não só como importador (ver abaixo) mas como exportador de jogadores, ainda que a importação tenha sido um factor importante não só para o campeonato mas também para a seleção, com a naturalização de três argentinos: Sebas Cano, Bebo Morales e Cirilo García.

De sublinhar o mérito do trabalho de Fabien Savreux, sucessor de Eric Marquis. Selecionador principal desde 2007, junta atualmente as seleções jovens de sub17 e sub20, escalões que ditaram a sua entrada na Federação nos inícios do milénio. Além da seleção francesa, Savreux orienta a equipa principal do Saint Omer, um dos clubes mais conceituados, ombreando com o La Vendeènne, Coutras e Quevert.

Savreux, o cérebro do hóquei francês no novo milénio


Foi precisamente em 2007 que o hóquei em patins ganhou o estatuto de modalidade olímpica em França, transformando por completo a organização da modalidade. Com esse estatuto, as seleções passaram a ter outro tipo de orçamentos que permitiriam melhor preparação para todas as competições internacionais. Outro ponto revolucionário foi a expansão da modalidade ao nível escolar e ao nível do investimento na formação, com técnicos contratados de acordo com a sua experiência na modalidade (inclusive técnicos ibéricos), colocados em várias regiões do país. França é um país especial neste aspeto, na medida em que a vertente regional dá um grande suporte às modalidades menos conhecidas, tornando-as muito valorizadas mesmo quando não são tão mediáticas. A presença massiça de público nas partidas é prova disso mesmo. No entanto, isso nem sempre significa que os clubes sejam orientados de modo profissional. Este apoio federativo/estadual veio trazer qualidade e profissionalismo ao ensino do hóquei em patins, dando a estrutura necessária para um crescimento sustentado.

A nova geração de ouro do hóquei francês

No plano competitivo interno, o campeonato nacional francês beneficiou da crise económica mundial, a par do hóquei suíço e alemão, com o destaque de ter conseguido aquisições de nível superior, incluindo internacionais argentinos, italianos e espanhóis. Miguel Ángel Sánchez, Sapo, García-Mendez, Gonçalo Favinha, Francesco Dolce, Alejandro Marasco, Danny Fernández, Andreu Tomas, Borja López, Maxi Oliva, Edu Fernández, Ricardo Silva, Rui Cova, Márcio Fonseca, Toni Seró, Gerard Teixidó, Pablo Saavedra, Nico Fernández, Víctor Crespo, foram alguns dos nomes mais sonantes da National 1. Apesar da boa figura nas competições europeias, a verdade é que o hóquei gaulês ainda não conseguiu surpreender as equipas dos principais campeonatos no que respeita a títulos ou participações nas grandes decisões.


JOGADORES ESTRANGEIROS A ATUAR NA NATIONAL 1

  • 2009/2010: 11
  • 2010/2011: 26
  • 2011/2012: 26
  • 2012/2013: 29
  • 2013/2014: 38
  • 2014/2015: 46
  • 2015/2016: 42
  • 2016/2017: 31

França conta atualmente com cerca de 70 clubes de hóquei, posicionando-se neste momento num ponto intermédio, próximo dos grandes campeonatos europeus mas ainda sem conseguir o mesmo nível qualitativo e organizativo (principalmente os clubes). A saída da modalidade do subsídio olímpico francês em 2018 (retirando 75% do orçamento da Federação para o hóquei em patins) teve efeitos imediatos nas seleções e veremos, no futuro, que efeito terá no caminho muito positivo que o hóquei gaulês está a traçar. - in hoqueiem.blogspot.com

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