Rui Neto esteve dez anos fora da I Divisão, voltando para treinar o HC Braga. Esta época foi aposta do Barcelos, cuja equipa foi líder até à quinta ronda e tem provado ser mesmo candidata ao título.
O Barcelos, que no início de 2020/21 assumiu que quer ser campeão, é segundo classificado no Nacional da I Divisão de hóquei em patins, a um ponto do líder Sporting, e possui o melhor ataque. O título nacional é objetivo principal e o clube sonha com o regresso ao topo, como na década de 90. Rui Neto, de 52 anos, também quer viver esse sonho, mas pede calma.
A pandemia está a ser o seu principal adversário?
-Sim, porque mudou tudo e o que mudou substancialmente foi não podermos pensar a curto/médio prazo. Ou seja, planeamos o trabalho, mas diariamente este pode ter de ser alterado. Por exemplo, temos um jogo marcado para o fim de semana e sabemos dois dias antes que não vai haver jogo. Temos de mudar o planeamento da semana e isso mexe com tudo, a começar pela cabeça dos atletas.
Preparado para continuar um campeonato cheio de jogos adiados?
-É com isto que temos de trabalhar. Podíamos ficar agarrados a isso, mas não pode ser. Temos de nos adaptar.
Acha que isso vai no futuro tornar as equipas mais fortes?
-Acredito que sim. Estaremos mais preparados para outras adversidades.
O que significa o segundo lugar do Barcelos?
-Significa que os objetivos definidos estão a ser cumpridos. Sabemos que isto não é como começa, mas sim como termina. No entanto, é importante para nós, primeiro pelo facto de termos assumido que nos queríamos intrometer na luta pelo título, depois porque foi e é todo um processo novo, com novo treinador e oito jogadores novos.
O Barcelos perdeu pontos sempre em casa. O que se passou? Com público seria diferente?
-O público é extremamente importante, mas lembro que fomos dos primeiros a ter casos de covid-19 e foi em cima do jogo com o Valongo, que estava num momento excelente. Eu e o Luís Querido voltámos de isolamento no dia do jogo com o FC Porto, assim como o Gimenez que tinha estado lesionado. Frente ao Sporting estivemos no jogo até afim.
O facto de o Benfica vir de uma paragem de duas semanas, ajudou a vencer esse jogo?
-É redutor ver as coisas assim, mas alguma influência teve, porque nós tivemos dois casos de covid e em termos mentais a equipa ficou afetada, mas continuámos a trabalhar, enquanto o Benfica parou porque teve vários casos. Mas quatro dias depois o Benfica já fez jogos de alta intensidade e ganhou a Taça 1947.
O Barcelos tem o melhor ataque e a segunda melhor defesa, esperava uma primeira volta assim?
-Muitos não acreditariam, mas não é surpresa. É o reconhecimento do enorme trabalho de todos. Encontrei um clube muito bem organizado e altamente profissional.
Está a despertar o Barcelos dos tempos de campeão e de brilhar na Europa?
-Sinto que podemos lá chegar, que esses anos dourados podem voltar, mas ainda não sinto que temos essa capacidade. O Barcelos tinha alguns dos melhores do mundo. Para mim, os meus jogadores são os melhores do mundo, mas não podemos ignorar a realidade e não podemos comparar o Barcelos que tem três/quatro referências, com plantéis como Benfica, Sporting e Oliveirense, com jogadores de referência mundial.
"Os adeptos estão sempre connosco e estamos gratos"A Direção-Geral de Saúde não permite público nas bancadas por causa da pandemia, mas em Barcelos os adeptos são devotos e nunca deixaram de apoiar a equipa. "Estão sempre connosco e estamos muito gratos", afirma Rui Neto, referindo: "É preciso estar-se por dentro para se perceber porque dizem que o Barcelos é o maior de Portugal. O que mais me tem marcado é, por exemplo, o facto de, quando saímos ou chegamos dos jogos, estarem à nossa espera, ou até o facto de enviarem vídeos motivacionais para fazermos chegar aos atletas."
"Argentinos trazem qualidade"
O Barcelos tem quatro jogadores argentinos, num total de 17 que iniciaram a I Divisão 2020/21. Rui Neto dá-lhes nota positiva e avalia ainda os seus reforços.
O Barcelos mudou muito a equipa. O que cada reforço deu à equipa?
-O Reinaldo [Ventura] é o exemplo de que o BI não joga. O Gimenez, a par de Lucas Ordoñez, é a figura deste campeonato. O Conti está num nível elevadíssimo e será em breve dos melhores do mundo. O Rafa e Tomas trouxeram irreverência. O Joca é muito importante no grupo e a adaptação do Miguel Rocha [segunda época no Barcelos] a jogador interior tem ajudado muito a equipa.
Porque não têm jogado Bautista Acevedo e Nicolás Gutiérrez?
-Porque quando chegaram já havia um mês e meio de competição. Precisam de tempo.
Como olha para a chegada de tantos argentinos?
-Trazem qualidade.
"Formação sofreu danos"
As competições jovens estão paradas por ordem das autoridades, no seguimento das medidas de combate à covid-19, e Rui Neto foi dos primeiros a falar nas consequências de não haver jogos na formação
Como está a situação das camadas jovens no Barcelos?
- Espero que as coisas mudem e que a formação possa regressar. Não tenho dúvidas que isto causou danos irreparáveis e que a médio prazo vai notar-se a falta de atletas. O Barcelos tem treinado; menos vezes, mas vai trabalhando, só que não é a mesma coisa. - ojogo.pt
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