Feliz em Itália, Diogo Neves confessa: «Estou bem, mas tenho alguma inveja daquilo que têm os meus colegas em Portugal»

Retirado de: zerozero.pt

Por Humberto Ferreira

Diogo Neves está a cumprir a segunda temporada no Sandrigo, mas já é o sétimo ano que leva de emigrante. Há seis anos em Itália, o internacional jovem português falou ao zerozero sobre a experiência no estrangeiro. 

O jogador falou sobre o momento atual, mais goleador, que está a viver no emblema do Vêneto. Diogo Neves está a jogar numa posição mais adiantada, onde é mais finalizador, e leva 20 golos marcados em 15 jogos. 

Nesta entrevista, com o jornalista Humberto Ferreira, Diogo Neves lamentou o facto de Itália ainda não ter aprendido a viver com o vírus Covid-19, falou sobre a seleção nacional e confidenciou «inveja» de não jogar no melhor campeonato do Mundo. 

«Habituei-me facilmente à vida cá» 

«Vou começando a construir a minha vida aqui, mas não quer dizer que esteja a fechar a porta a Portugal. Bassano del Grappa é uma cidade incrível, habituei-me facilmente à vida cá, à gastronomia, tem paisagens muito bonitas e um bom nível de vida. Quando saí do Bassano, tive opções para ir para região da Toscana, mas acabei por ficar por aqui, e não tem nada a ver com a região, mas sim com a opção desportiva que tomei. Há dois conhecia a minha namorada e, essa sim, é uma razão mais forte para estar cá». 

«Conheci o Cacau no Benfica, ainda o Luís Sénica era o treinador, onde apesar de júnior ia treinar com a equipa principal e fiz alguns jogos. Fiz logo amizade com o Cacau, é fácil ficar amigo do Cacau. Em relação ao Sandrigo, aceitei este projeto há dois anos, é um clube que quer crescer. No ano passado ficamos nos oito primeiros e este ano reforçamos, mas ainda não conseguimos ter a equipa totalmente operacional, por lesões normais, mas também por causa do Covid e ainda não conseguimos chegar aos oito primeiros, mas o objetivo é chegar às posições de play-off.» 

«Eu fui a Portugal, no Natal, e não vi os meus amigos, para poder estar resguardado» 

«No início ninguém dava o devido valor à pandemia, parecia uma coisa que estava longe na China, mas certo dia, quando estava no Trissino, o Sérgio Silva disse-nos que tínhamos de ir para casa, pois o Stefano Del Santo tinha testado positivo. Fomos todos para casa, todos os dias nos ligaram do hospital de Vicenza, e pensámos que ia ser algo passageiro, mas na prática começamos a quarentena 15 dias antes de toda a gente, pois quando terminaram esses 15 dias, toda a gente teve de ficar em casa». 

«Eu esperava que tivesse tido outro impacto por parte das pessoas. Em Portugal, as pessoas estão a respeitar mais que em Itália. Eu fui a Portugal, no Natal, e não vi os meus amigos, para poder estar resguardado, enquanto que em Itália, as pessoas não cumprem tanto as regras». 

"Estou bem, mas tenho alguma inveja do que os jogadores estão a viver, em Portugal" - Diogo Neves, jogador do Trissino 

«Desde criança via jogos do campeonato espanhol e italiano e sempre disse à minha família que gostava de experimentar esses campeonatos. No primeiro ano de sénior, no Paço de Arcos, foi muito difícil, pois tinha as expectativas muito altas e não tive a preparação, acho que nunca há, para chegar a esse patamar. Devia haver uma ajuda, aos jovens promissores, para saberem que vão passar por um processo que pode significar estar dois/três anos de adaptação, para depois chegares onde queres. Nem toda a gente tem esta ajuda e pode haver um choque. Depois dessa época houve a hipótese de ir para Espanha, tive um apoio total da minha família e não me arrependo. Está a ser muito enriquecedor». 

«Estou confortável e aceito, mas tenho pena, pois a ação está toda em Portugal e gostava de viver o que os jogadores em Portugal estão a viver. As minhas decisões levaram-me a estar aqui, mas sei que as portas de Portugal estão abertas. Estou bem, mas tenho alguma inveja do que os jogadores estão a viver, em Portugal». 

«O campeonato português é o melhor do mundo, mas acho o italiano o mais competitivo. Este ano, o Trissino está muito destacado, mas qualquer equipa pode ganhar em qualquer pista».

«O jogador português tem mais facilidade em adaptar-se ao hóquei italiano, que ao hóquei espanhol, pois em Itália há muita tática e é no rasgo individual que os jogos se decidem e em tenho conseguido dar o meu cunho ao jogo. Sempre fui um jogador que gosta de ter bola no stick e assistir, mas o golo é sempre o golo». 
«Já fui campeão do Mundo por Portugal, foi dos momentos mais bonitos que tive até hoje, e gostava de repetir, mas o nível, hoje em dia, é muito alto. Os jogadores que jogam nas grandes equipas, em Portugal, têm mais facilidade, estão noutro palco e têm outra visibilidade. Eu sou profissional e dou sempre o meu melhor e seria um grande privilégio se fosse chamado, tal como seria um grande privilégio se recebesse um convite da seleção italiana. No dia em que isso acontecer e se acontecer eu vou ter que ponderar». 
«Quando aceitei o projeto do Sandrigo quis preparar a minha carreira paralela e estou a dar aulas numa escola, onde dou aulas de educação física, pois sou professor, além de ser personal trainer. É importante termos um plano B».

Texto retirado do zerozero.pt

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